Entrevista: Earth Drive

Earth Drive Perfil

Magnificência cósmica e espiritual…

…é o que poderemos chamar da viagem que ocorre quando assistimos a um concerto ou ouvimos um registo discográfico dos Earth Drive. O Sons Subterrâneos debruçou-se numa entrevista intimista com a banda natural do Montijo em que foram abordados assuntos como a energia vital, o Universo, a autenticidade e sobre seguir o coração e os sonhos entre outros assuntos profundos…

Podem-nos contar o vosso historial desde o início da banda para se darem a conhecer a quem não vos conhece bem? Nomeadamente a nível de mudanças de formação e a marcos importantes?

Nascemos no Montijo em 2007 e fizeram parte da banda o Carlos Rodrigues (Bateria), Jorge Pinela (Guitarrista), André Eusébio (Guitarrista) e Fernando Peres (Bateria) que saíram por motivos pessoais . Mas desde 2011/2012 que mantemos a formação actual.

Gravamos algumas demos sendo que apenas em 2015 merecemos a aposta da Raging Planet para editar o EP “Planet Mantra”.

Durante o ano de 2016/2017 passamos por vários palcos de destaque do espectro underground português, como o festival Reverence Valada, Under The Doom IV Edition, Sprint to Rock Fest II e VOA Heavy Rock Festival com boas review´s quer no âmbito da qualidade da performance ao vivo quer relativamente ao Ep “Planet Mantra”.

Editamos no dia 20 de Outubro de 2017 o primeiro álbum “Stellar Drone” que mereceu novamente a confiança da prestigiada e carismática editora portuguesa Raging Planet.

Como surgiu o nome Earth Drive para a banda? Está relacionado com o misticismo e espiritualidade que normalmente associamos à Mãe Natureza/Mãe Terra?

Podemos afirmar que sim na medida em que pretendemos identificarmo-nos com um nome que nos inspire e nos proporcione uma ligação forte e profunda com a energia que nos rodeia. No fundo pretendemos conectarmos o melhor possível com essa energia vital para que a nossa arte seja o mais autêntica e representativa da nossa experiência neste mundo.

Earth Drive - Front

A vossa sonoridade é difícil de catalogar. Poderiam informar-nos sobre a influência que cada membro traz à banda? Nomeadamente ao nível de bandas preferidas de cada um?

Talvez seja mais fácil referir que gravitamos todos mais ou menos em algumas influências comuns como Pink Floyd, Beatles,Pearl jam, Tool, Kyuss, Deftones.

Porque é que deram o nome de “Stellar Drone” ao vosso álbum?

Não tinhamos intenção de ter qualquer tipo de conceito quanto ao conteúdo do disco nem foi nada premeditado. O nome surgiu e foi representativo do início de algo muito significativo para nós e adequado ao art work do Daniel Martin Diaz. Funciona para nós como Mantra primordial inspirador.

O nome surgiu por acaso e só lhe fomos atribuindo significado à medida que tudo se foi complementando com o Art Work. Vêem-se no mesmo representados graficamente buracos negros e ondas gravitacionais em conjunto com uma outra imagem representativa de uma hierárquia da consicência. Podemos interpretar que “Stellar Drone” acaba por ser o som (Drone estelar) derivado da colisão de dois buracos negros que dá origem a um novo início, a uma nova tomada de consciência da humanidade para com fenómenos de sincronicidade que poderá ser transformadora e positiva.   É dessa forma que temos sentido o conteúdo do disco a todos os níveis e que se vai transformando à medida que as experiências de vida vão surgindo de uma forma sincronizada com a autenticidade que existe em cada um de nós. Quando mais conectados estivermos com o nosso ser mais profundo e genuíno mais transformadora e inspiradora poderá ser esta viagem e as várias interpretações que poderão surgir deste nome.

Todos os membros da banda participam na composição da música e das letras do álbum ou existe uma dinâmica diferente?

Participamos todos na composição instrumental. As ideias vão surgindo e vamos todos reagindo e contribuindo no sentido de servir o melhor possível o tema em questão a estética e textura sonora própria da banda. Quanto às letras são maioritariamente escritas pela Sara embora todos contribuamos pontualmente nas mesmas.

Numa entrevista recente à LOUD! afirmaram que a vida de uma banda não é nada fácil e a vossa vocalista Sara afirmou até que as relações interpessoais não são nada fáceis. Poderiam desenvolver mais essa vossa resposta?

É uma afirmação transversal ao fenómeno da vida em geral. A qualidade das relações interpessoais é fundamental para que se consigam atingir objectivos e é normal em qualquer contexto organizacional que existam divergências, acontecimentos de vida pessoais complicados que por vezes determinam os comportamentos e as atitudes de cada um. A vida de banda tem muitas especificidades que são duras e é necessário existir muita empatia e comunicação assertiva para que se consigam ultrapassar as dificuldades e as frustrações que sentimos dentro e fora da banda.

No vosso concerto no Stairway Club, no passado dia 5 de Janeiro, quando se despediram com a última música, a banda através das palavras de Hermano, o vosso guitarrista, pediu ao público para seguir os seus sonhos e o seu coração. O que causa esta necessidade de comunicarem para o público desta forma?

No fundo sentimos necessidade de partilhar com o público aquilo que é a nossa verdade e essa verdade é naquele momento a experiência autêntica que estamos a viver com as pessoas que estão na sala. Esse momento que consideramos bonito e mágico é maior do que todos nós e resulta do nosso sonho e da necessidade de sonhar que todos temos enquanto espectadores, apreciadores de arte e participantes neste mundo. Assim é algo natural que nos sai e que pretendemos continuar a passar a quem decide estar com a banda nesses preciosos momentos. Sentimos convictamente que se estivermos todos um pouco mais conectados com as nossas paixões talvez consigamos conviver num mundo melhor.

Earth Drive - Grey context

O que eu senti com a vossa prestação nesse concerto foi que vocês estavam a ser completamente genuínos convosco próprios e com os vossos sentimentos. E essa genuinidade faz com o público também eleve a sua consciência e o seu nível de espiritualidade. O efeito oposto que temos, por exemplo, com certos trabalhos/empregos que sentimos que nos “drenam a alma”. Quais são as diferentes emoções que sentem depois de um espectáculo? Sentem-se completamente realizados?

Sim claro,  o que demonstramos ao vivo é a sequência do trabalho que realizamos no estúdio e o que fazemos no estúdio é a autêntica expressão daquilo que são as nossas emoções e sentimentos quotidianos que são ali partilhados. Depois a experiência ao vivo é um ritual no qual partilhamos tudo isso com as pessoas que generosamente nos dedicaram aquele tempo.

Nem sempre é fácil sincronizarmo-nos com todas as emoções e sentimentos que originaram determinado tema mas existe sempre uma transmutação de significado que redimensiona totalmente o nosso “feeling” no momento dessa partilha com o público.

Somos o mais honestos possível com o que estamos a fazer mas existem no entanto muitas condicionantes durante todo um dia que antecede o espectáculo ou mesmo dificuldades técnicas durante o concerto que nos distancia um pouco do melhor de nós. Em suma obviamente que nem sempre acabamos um concerto com um sentimento de realização completa até porque somos exigentes com o que pretendemos apresentar e por vezes algum erro que possamos cometer acaba por fazer-nos sentir que não fomos competentes e isso claro que nos frustra mas também nos dá motivação para tentarmos sempre fazer melhor.

Temos um enorme respeito pelo público que generosamente está ali para usufruir do momento connosco e queremos que também se sintam recompensados com um bom espetáculo que pagaram para ver.

Mas claro que é uma actividade bem mais gratificante intrínsecamente do que muitos desses trabalhos que efectivamente nos esmagam o “SER” que realmente somos. Que nos apagam a humanidade que temos dentro de nós e que nos torturam a alma por ilusões de necessidades que são criadas para alimentar uma sociedade “doente”. Por isso, por pior que possa correr um concerto será sempre mais gratificante do que estar num outro local a fazer algo mecânico e pouco criativo.

Vocês conseguem dedicar-se à banda a tempo inteiro ou têm de ter um emprego à parte para pagarem despesas?

Não temos esse privilégio e temos mesmo de ter outras actividades para fazer face às despesas. 

Quais são os planos para o futuro próximo dos Earth Drive?

Neste momento estamos focados em continuar a promover o novo album “Stellar Drone” em todas as oportunidades que nos forem surgindo e a usufruir do aqui e do agora. Queremos continuar a crescer, a trabalhar e a saborear juntos todas as possibilidades que este caminho nos oferecer com responsabilidade e com o sonho que partilhamos com todos os que vamos conhecendo neste meio.

Têm algum conselho que possam dar às bandas que estão agora a começar?

Não nos sentimos como um exemplo mas no caso da nossa experiência ser relevante para alguma outra banda podemos partilhar que sejam o mais autênticos convosco próprios, sejam resilientes, comprometidos com a vossa amizade, com o trabalho e com a exigência que é necessária para que aumentem a probabilidade do resultado dessa dedicação seja reconhecida. Divirtam-se e sejam apaixonados por todos os processos e contextos de banda, desde o criar, ao gravar, tocar ao vivo ou outra situação qualquer relacionada com o estar numa banda. Sejam responsáveis e educados para quem trabalha convosco e por todos aqueles que dispensam um pouco do seu tempo para vos dar atenção.

 

Email da banda: earth.drive.sound@gmail.com

Facebook da banda

 

Por: Vitor Teixeira

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